A Jurema pertence a familiares do senador Marcelo Castro(MDB)
Empresas da família do senador Marcelo Castro (MDB-PI) usam irregularmente, desde 2008, um terreno da União no Piauí para mineração de granito, onde têm uma receita anual milionária extraindo brita para construção civil.
A área, em Buriti dos Lopes (PI), pertence ao Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), autarquia do governo federal, desde quando foi desapropriada, em 1986. Controlado por apadrinhados de políticos locais, o Dnocs autorizou que as empresas minerassem no local, passando por cima do procedimento legal.
Em 2022, moradores de um povoado na área invadida relataram à polícia que a mineradora derrubou as cercas de suas casas e tentou se apoderar de seus terrenos à força. A empresa nega a acusação.
Depois disso, em 2018, a Mineradora Icaraí, de Mathias Neto Maia Machado e Castro —filho de Humberto e sobrinho do senador— assumiu a pedreira, ainda sem autorização legal ou licitação para usar o imóvel.
Procurada, a Icaraí afirmou que opera legalmente na região e que está tentando regularizar a propriedade junto ao governo federal. O Dnocs disse que está analisando o pleito da empresa, mas não respondeu sobre a autorização que deu à mineradora em 2020. O senador Marcelo Castro disse que não iria se manifestar.
Segundo especialistas, a lei não permite a mineração sem que haja direito de uso ou de propriedade da terra. “Tem um problema na origem.
A Icaraí foi autorizada a operar no terreno da União pelo então coordenador estadual do Dnocs, Jorge Saraiva Amorim, em outubro de 2020.
Jorge Amorim é irmão de um ex-assessor parlamentar de Marcelo Castro, Christian Saraiva Amorim. Depois de sair do Dnocs, foi assessor de Ciro Nogueira (PP-PI) no Senado até 2023. Também foi sócio de seu irmão em uma empresa de consultoria em emendas parlamentares.
Os irmãos ganham dinheiro ajudando prefeituras com a liberação de emendas. Nos últimos cinco anos, eles fecharam 114 contratos com 51 cidades do Piauí, das quais 28 são administradas pelo PP, de Nogueira, e sete pelo MDB, de Castro.
No atual momento, o processo ainda está correndo no Dnocs. Enquanto isso, a propriedade continua sendo da União.
Desde 2008, a Jurema e a Icaraí extraíram 837 mil metros cúbicos de granito para brita da pedreira. Considerando o valor de mercado da brita nesse período, é possível estimar que a receita bruta da mineradora superou R$ 60 milhões.
O Dnocs tem um imóvel de um milhão de hectares, onde fica a área ocupada pela Icaraí, de 49,8 hectares (cerca de 70 campos de futebol). No entorno, há o povoado de Recreio, ocupado em boa parte por trabalhadores da pedreira.
Em junho de 2022, uma moradora do povoado relatou à polícia que a mineradora teria invadido seu terreno e derrubado sua cerca, dizendo que a área estaria incluída no perímetro que estaria sendo regularizado entre a empresa e o Dnocs.
Fonte UOL