Convivência com o Semiárido: ASA e CERAC contribuem para produção de alimentos e esperança a 76 famílias

Em meio à crise climática que afeta a população mundial, sentimos cada vez mais, na própria pele, seus impactos, como o aumento das temperaturas, a escassez hídrica e os desastres ambientais. No campo, esses efeitos tornam-se ainda mais visíveis, pois a irregularidade das chuvas é desafiadora a produção de alimentos de base agroecológica, essencial para a agricultura familiar e para a soberania alimentar de milhares de famílias.
Na contramão desse cenário, para conviver com os desafios históricos do Semiárido, somados à atual crise ambiental, uma das principais soluções são as tecnologias sociais de convivência com o Semiárido, desenvolvidas pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). Essas ações integram o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) e são executadas pelo Centro Regional de Assessoria e Capacitação (CERAC).
As tecnologias foram implantadas no município de Pedro II, no norte do estado do Piauí, ao longo do ano de 2025, beneficiando 76 famílias de 13 comunidades rurais. Ao todo, foram construídas 54 cisternas do tipo calçadão e 20 cisternas de enxurrada, cada uma com capacidade para armazenar 52 mil litros de água da chuva, além de duas barragens subterrâneas, uma tecnologia social de grande importância, pois contribui para a elevação do lençol freático e para o fortalecimento da produção agrícola.
Em Pedro II, a iniciativa tem como coordenadora a jovem indígena Daniele Tabajara. Ela destaca a importância do programa, que possui critérios essenciais de priorização, como a participação de mulheres, crianças e povos de comunidades tradicionais, garantindo acesso à água, formação e autonomia às famílias agricultoras.
“São 76 famílias atendidas, que receberam implementos capazes de contribuir diretamente para o desenvolvimento e o crescimento de cada unidade produtiva. O projeto auxilia na geração de renda, promove o desenvolvimento sustentável, incentiva uma alimentação saudável e valoriza as sementes da fartura e a agricultura familiar”, destaca a coordenadora do P1+2.
A iniciativa da ASA e do CERAC leva água para a produção de alimentos saudáveis às famílias que mais necessitam desse direito essencial. Além disso, promove o compartilhamento de experiências exitosas de convivência com o Semiárido, impulsionando a produção agroecológica, o uso consciente dos recursos naturais e o respeito à rica biodiversidade das matas nativas da região.
A agricultora familiar e guardiã das sementes da fartura, Solange Chaves, do Assentamento Pedra Branca, distante cerca de 20 quilômetros da sede de Pedro II, destaca que a cisterna representa a realização de um sonho, pois possibilita a ampliação do seu quintal produtivo e da criação de galinhas caipiras.
” Com as mudanças climáticas, o maior sonho da família foi realizado com a conquista da cisterna calçadão, que chegou no momento certo. Esse projeto fortalece ainda mais a vontade de produzir alimentos saudáveis. É água saudável que vem da chuva, e quem mora no interior sabe da importância dessa tecnologia para o fortalecimento do trabalho da agricultura familiar”.
A agricultora familiar Cíntia Souza, da comunidade Ingazeira, também sentiu na própria pele os efeitos da escassez hídrica. Com a chegada da cisterna, ela planeja encher seu quintal de verde, cultivando plantas e melhorando a alimentação da família por meio da criação de animais caipiras de pequeno porte.
“A cisterna é muito importante para mim. Ela me trouxe segurança e muitos benefícios, como o conhecimento sobre como produzir alimentos saudáveis cuidando da água e do solo, além de melhorar minha alimentação e gerar renda no campo. Hoje, tenho uma tecnologia que é minha, e isso não tem preço”.
Além disso, agricultoras e agricultores beneficiados irão receber R$ 4.600,00 do Programa Fomento Rural para investir em seus quintais agroecológicos, fortalecendo atividades que já dominam, como a criação de pequenos animais, hortas organizadas, artesanato e outras práticas produtivas.
As ações foram realizadas por meio de uma parceria entre o CERAC, a ASA, o Fórum Piauiense de Convivência com o Semiárido e o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS). Essas tecnologias são fundamentais para garantir uma convivência justa, sustentável e digna com o Semiárido, fortalecendo a agricultura familiar, a segurança alimentar das comunidades rurais e o fortalecimento das ações que freiam o aquecimento global.