Censo dá visibilidade aos refugiados venezuelanos

 Censo dá visibilidade aos refugiados venezuelanos

77 venezuelanos estão sendo alfabetizados pela prefeitura de Teresina através do projeto Alfabetização Sem Fronteiras

            Mais de 5 mil quilômetros separam Jovini Blanco de sua terra natal: Tucupita, capital do estado de Delta Amacuro, na Venezuela. Ele é um dos indígenas da etnia Warao, oriundos do país vizinho, que estão refugiados em Teresina. Como agora são moradores do Brasil, eles também respondem ao Censo Demográfico 2022.

            Jovini e sua família – esposa e três filhos – estão abrigados no centro de treinamento do Instituto de Assistência Técnica de Extensão Rural do Piauí (Emater) há cerca de dois anos. Mais de uma centena de indígenas Warao vivem no mesmo lugar. As salas de aula foram transformadas em unidades domiciliares, nas quais residem de duas a três famílias em cada.

Uma equipe do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi até o local e, em dois dias, todos os moradores foram recenseados. “Eu falo espanhol, então consigo me comunicar com boa parte deles. Uma minoria fala apenas a língua Warao, então contamos com ajuda do Jovini – que fala um ‘portunhol’ e consegue traduzir pra gente”, relata a coordenadora censitária de subárea Enyere Nascimento.  Em Teresina, existem mais três abrigos, que acolhem um total de 262 pessoas.

O coordenador técnico do Censo no Piauí, Pedro Andrade, explica a metodologia adotada pelo IBGE para definir quem entra na contagem. “No caso dos indígenas venezuelanos instalados em abrigos públicos, também são recenseados como moradores no Brasil, visto a permanência deles há mais de ano em território brasileiro”, esclarece. “Apesar de já receberem algum benefício do poder público, é importante o levantamento censitário deste povo para o planejamento de ações de políticas públicas”, completa.

            Em 2017, Jovini decidiu sair da Venezuela. “A situação econômica, a falta de medicamentos, de alimentos” são os motivos citados por ele para a decisão de deixar o país de origem. Junto com a família, o indígena enfrentou cerca de 800 quilômetros de ônibus entre sua cidade natal e a fronteira com o Brasil.

            A jornada até a capital piauiense incluiu passagens por Pacaraima (RR), Boa Vista (RR), Manaus (AM), Santarém (PA) e Belém (PA). Todo o trajeto foi feito em viagens de ônibus ou barco. “Minha mãe, meu pai e meus irmãos ainda estão na Venezuela, porque não têm recursos econômicos para pagar a passagem”, lamenta Jovini. Teresina foi escolhida como destino final pois sogros de Jovini já estavam na cidade.

            Mas a vida no Brasil também tem percalços. “Primeiramente, a comunicação em português, depois a falta de trabalho, porque gostaríamos de um emprego para comprar o que precisamos e também para ajudar os parentes que continuam na Venezuela”, elenca Jovini sobre as principais dificuldades enfrentadas no país. Na Venezuela, ele trabalhava como professor polivalente de crianças.

Em Teresina, a fonte de renda da família é o Auxílio Brasil. “Mas isso não dá pra muito, temos de ir à rua também, para pedir, porque falta muita coisa”, justifica Jovini. Alguns dos residentes do local não possuem ventilador, por exemplo. Segundo Jovini, por conta disso, há pessoas que estão dormindo nas áreas externas do abrigo, devido ao calor desta época do ano.

Conforme um levantamento do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), a principal fonte de recursos dos Warao no Brasil é “pedir dinheiro”. “Para os indígenas, trata-se de um trabalho e, na maioria das vezes, do único trabalho possível em contexto urbano”, afirma a ACNUR. De acordo com a pesquisa, a prática é comum e possui contexto histórico provocado pela colonização dos Warao na Venezuela, que fez os indígenas se deslocarem para as cidades de forma precária.

Apesar das dificuldades, Jovini alimenta a esperança de um futuro melhor no Brasil. “Claro que quando pensamos na nossa família, queremos voltar. Mas agora não tenho recursos para comprar passagem e tudo isso. E sei que um dia nós vamos ter trabalho aqui”, reflete.

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