Câmara alerta sobre empobrecimento de mulheres que trabalham na educação infantil

 Câmara alerta sobre empobrecimento de mulheres que trabalham na educação infantil

Especialistas defenderam aprovação de projeto de lei que prevê o pagamento do piso salarial nacional dos professores a essas profissionais

Especialistas alertaram nesta sexta-feira (8) para o processo de empobrecimento de mulheres que trabalham no ensino infantil. Atualmente, o trabalho na educação de crianças de 0 a 3 anos é exercido quase que exclusivamente por mulheres e tem o pagamento do piso salarial vinculado a decisão administrativa local.

Segundo o Censo Escolar 2022, as mulheres representam 97,2% dos profissionais nas creches e 94,2% na pré-escola.

O tema foi debatido no seminário “Gênero, raça, cuidado e educação: valorização das educadoras infantis”, realizado pelas comissões de Educação; de Administração e Serviço Público; de Defesa dos Direitos da Mulher; e de Trabalho da Câmara dos Deputados.

Ao longo do evento, os participantes defenderam a aprovação do Projeto de Lei 2387/23, que está em análise na Câmara e prevê a inclusão dos professores de educação infantil na carreira do magistério público da educação básica para que eles sejam beneficiados pelo piso salarial nacional estabelecido na Lei 11.738/08. O projeto foi aprovado na Comissão de Educação da Câmara, mas ainda será analisado pela Comissão de Constituição e Justiça.

A procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT) Fernanda Pereira Barbosa observou que o trabalho de cuidados remunerado é considerado como de menor valor ou de menor importância e é exercido majoritariamente por mulheres, muitas vezes de forma precária e na informalidade. “A feminização da pobreza e a desvalorização do trabalho de cuidados são reproduzidas na educação infantil”, afirmou.

“Historicamente, a própria luta pelo direito ao ensino de crianças em seus anos iniciais foi assumida pelas mulheres, apesar de ser uma luta de todos. E isso ocorreu devido aos papeis de cuidado e de proteção serem delegados a mulheres, em uma visão social patriarcal”, acrescentou a procuradora.

Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Seminário: Gênero, raça, cuidado e educação: valorização das educadoras infantis. Dep. Professora Luciene Cavalcante (PSOL-SP)
A deputada Professora Luciene Cavalcante defendeu o enquadramento desses profissionais

Questão racial
Representante do Ministério da Educação, Valquíria Santos Silva defendeu que, para além da prática pedagógica, a educação abarca interesses de uma agenda coletiva, como a pauta de direitos das mulheres negras. “Nós temos um cenário na educação com educadoras majoritariamente mulheres e pretas. Isso reforça muito o diálogo interseccional e que precisa ser considerado um aspecto importante na política pública educacional”, reforçou.

“Eu acredito em uma educação mais comprometida e democrática quando ela consegue analisar e identificar o contexto em que uma escola é constituída por todos os trabalhadores que integram uma comunidade escolar”, complementou Valquíria, que coordena a formação continuada para as relações étnico-raciais e educação escolar quilombola no MEC.

Equiparação
O trabalho das educadoras abrange desde o cuidado da higiene das crianças até seu desenvolvimento na coordenação motora e na habilidade de lidar com suas emoções, observou  a secretária de Autonomia Econômica e Políticas de Cuidados do Ministério das Mulheres, Rosane da Silva.

Diante disso, ela defendeu a equiparação entre educadoras e profissionais do magistério: “O conjunto amplo de necessidades das crianças traz à tona a indissociabilidade do cuidar e do educar”, frisou.

“A primeira infância é um período crucial para o desenvolvimento humano e isso já basta para valorizar as educadoras, mudando a realidade de baixos salários, de falta de reconhecimento profissional e de carga horária excessiva de trabalho”, acrescentou Rosane.

A deputada Professora Luciene Cavalcante (Psol-SP), que solicitou o debate, reforçou que a luta pelo enquadramento desses profissionais é interministerial. “O enquadramento na carreira do magistério dessas profissionais que exercem a função docente, que tem concurso e que tem formação, é uma luta que tem de ser interministerial e tem de estar no centro de discussões de políticas de defesa do direito das mulheres de superação do racismo e de fortalecimento das políticas do trabalho”, disse.

Fonte: Agência Câmara de Notícias

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