Justiça do Piauí erra e deixa agricultor preso por dez anos

 Justiça do Piauí erra e deixa agricultor preso por dez anos

Após 10 anos, a sentença foi anulada e Nilton de Souza Moura foi liberado depois que os pais morreram e o filho cometeu suicídio

Imagine ser condenado a quase 30 anos por um crime que você não cometeu e viver 10 anos da sua vida preso injustamente lutando pela própria inocência. Essa é a história de Nilton de Souza Moura, um agricultor de 64 anos, morador da zona rural do município de Corrente, no Piauí.

O pesadelo de Nilton começou em 18 de março de 2014, ao encontrar os corpos de um casal de idosos brutalmente assassinados. Ele chamou a polícia imediatamente, e após investigações, o enteado dele foi identificado como autor do crime e confessou os assassinatos.

Mas, o verdadeiro autor do crime mudou o depoimento, acusando Nilton, seu padrasto, com o qual nunca teve uma boa relação, de participar do latrocínio.  Juntamente com a falsa acusação, veio a coação e a tortura policial, para que ele confirmasse o depoimento do enteado.

NENHUMA PROVA – No processo de Nilton só existiam dois elementos que indicavam sua suposta participação: a acusação feita pelo criminoso e a confissão a ele atribuída. Não foi apresentada nenhuma prova contra o acusado. E para agravar ainda mais a situação dele, sua defesa técnica foi precária, o que equivale à sua ausência, deixando-o indefeso.

O ativista de Direitos Humanos e presidente da Ong Projeto Voz, Aurino Filho, indignado com o caso de Nilton de Souza, passou a acompanhar de perto a situação, contratando inclusive um advogado criminalista para cuidar da defesa do réu.

“O juiz deu uma sentença condenatória levado por simples presunção, com provas contaminadas de erros. A meu ver, prevaleceram no caso uma raiva acusatória. A única razão clara para este cidadão inocente ter sido condenado é uma só: não lhe foi dado a oportunidade de provar sua inocência”, argumenta Aurino Filho.

Recentemente, depois de 10 anos preso injustamente, o Tribunal de Justiça do Piauí reconheceu que o depoimento do criminoso foi comprovadamente falso e que, portanto, Nilton é inocente.

Para Aurino Filho, que viveu de perto toda a ilegalidade, desrespeito e desumanidade do processo do réu, agora, é uma honra e prazer gritar “Nilton é inocente! ”.

DOR E LUTA – O caso de Nilton causou comoção na sua cidade e no estado do Piauí, levando a sociedade a transformar a dor e a indignação em luta, por meio da campanha #1crime6vítimas, que durou até os dias de hoje, e que agora termina com um final mais do que feliz, termina de forma correta, imparcial e justa, como tem que ser a Justiça para todos.

Considerado um dos maiores erros do judiciário piauiense, o caso do agricultor deixou marcas irreversíveis em toda a família de Nilton. Sua mãe e seu pai foram consumidos pela depressão e faleceram e o seu filho cometeu suicídio.

A defesa de Nilton pretende pedir indenização ao estado pelo tempo preso injustamente.

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